Pular para o conteúdo principal

Noções de gravimetria - Valores de densidade

(Texto adaptado da dissertação de mestrado de Alves 2012

A densidade dos litotipos exerce influência sobre a resposta gravimétrica através do contraste de densidade entre os corpos (BLAKELY, 1996, TELFORD et al., 1990). A detecção de um corpo utilizando a gravimetria somente será possível se, na escala de estudo, o contraste de densidade entre os corpos estudados for suficiente para ser detectado pelo método. 
O valor de densidade utilizado pode vir da medição em amostra, ou estimado através de valores encontrados em literatura. Alguns valores médios de densidade para diferentes litotipos estão exemplificados na Tabela 1.



Tabela 1 – Valores médios de densidade para litotipos petrográficos diferentes.

Material
Densidade (g/cm3)
Dolomito
2,7
Carbonato
2,55
Sal
2,2
Arenito
2,35
Folhelho
2,4
Andesito
2,61
Basalto
2,74
Diabásio
2,91
Diorito
2,85
Gabro
3,03
Granito
2,64
Granodiorito
2,72
Peridotito
3,15
Riolito
2,52
Anfibolito
2,96
Quartzito
2,6
Serpentinito
2,78


No cálculo da Anomalia Bouguer, é atribuído um valor único para a densidade de contraste entre os meios separados por uma superfície. Esta superfície geralmente é a topografia ou a batimetria da área. O valor de densidade escolhido deverá representar da melhor forma possível este contraste, a fim de corrigir os efeitos causados pelo contraste entre os dois meios (ar/terra onshore e água/terra offshore).

Ao corrigir um determinado valor de contraste de densidade, as anomalias relacionadas ao valor escolhido irão ser consideravelmente reduzidas ou desaparecer. Isto é demonstrado por um estudo chamado "curvas de Netletton". Por isso, é importante ter em mente que a densidade escolhida para gerar o mapa Bouguer irá eliminar o efeito de alguns litotipos presentes na superfície de contraste. 

É possível fazer a correção de vários valores de contraste, em áreas determinadas do mapa, a depender do objetivo do estudo e do software disponível para o trabalho. Mas quanto mais correções são feitas, mais litotipos terão sua resposta "excluida". Tudo dependerá do contexto geológico e do alvo a ser estudado. Sendo assim, se alguém possuísse um mapa com a perfeita distribuição das densidades na superfície batimétrica/topográfica, e fizesse a correção de contraste de densidade nesta superfície utilizando todas estas diferenças, o resultado seria um mapa sem anomalia nenhuma. Assim, comumente usa-se um valor único para a correção do contraste de densidade, visando minimizar assim a resposta de um grupo de tipos litológicos presentes e ressaltar a resposta de outros.

Como exemplo de escolha de valor de contraste, consideremos uma bacia em área offshore em margem continental, com presença de intrusões vulcânicas básicas. Se o meu objetivo for reduzir o efeito das rochas vulcânicas no mapa final, qual é o contraste de densidade?  Se considerado o valor de 2,88 g/cm^3 para a densidade das rocha básicas e 1,03 g/cm^3 para a água do mar, poderia ser usado um contraste de 1,85 g/cm^3. Mas, se por outro lado, meu objetivo for estudar as estruturas do embasamento e intrusões vulcânicas na bacia, este contraste reduziria justamente a resposta das rochas a estudar. Então, neste caso, poderia ser usado um contraste mais baixo como, por exemplo, 1,27 g/cm^3, considerando a densidade média dos sedimentos como sendo 2,3 g/cm^3 e a água do mar 1,03 g/cm^3.  

Pensando nestas possibilidades, a escolha das densidades consideradas para o cálculo do contraste de densidade acaba entrando na seara da interpretação. Então, é importante que esta escolha seja bem pensada e justificada.


_________________________________________________________________________
Referências

Alves, L. S. 2012. Estudo da margem Ibérica Ocidental com Base em Dados Gravimétricos e Magnetométricos Regionais. Dissertação de Mestrado, Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

Blakely, R. J. Potential Theory in Gravity and Magnetics Applications. Cambridge: University Press, 1996, 441p.

Telford, W.M.; Geldart, L.P.; Sheriff, R.E. Applied geophysics. 2. ed. Cambridge: Cambridge University Press. 1990. 770p.


========================================

Referencias aqui

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O uso de filtros na análise de dados magnetométricos e gravimétricos

Para uma abordagem mais interpretativa dos dados, é uma prática comum a composição de um conjunto de mapas com diversas informações diferentes, extraídas do dado inicial processado. Para tal, os dados gravimétricos e magnéticos iniciais, respectivamente anomalia de ar-livre e a anomalia de campo total, passam por processos de filtragem. Em geral, primeiramente, a partir dos dados  gravimétricos é criado um mapa de Anomalia Bouguer, e com os dados magnéticos, são compostos os mapas de redução ao polo e amplitude do sinal analítico. Alguns outros filtros, que podem adicionalmente ser aplicados são as derivadas verticais, horizontais e Tilt (TDR) (MILLER e SINGH, 1994; VERDUZCO et al., 2004), o mapa de gradiente horizontal total, o filtro de amplitude do sinal analítico e os filtros passabanda (BLAKELY, 1996, TELFORD et al., 1990). É recomendada a aplicação de diversos filtros como ferramenta auxiliar de interpretação. Contudo, é preciso atentar para o significado do resultado de...

Introdução a uma nova visão de margem passiva.

( Texto modificado de Alves, 2011 ) No estudo de margens passivas, o s m odelos mais recentes apresentam uma complexidade que não era estudada há alguns anos atrás. São modelos multifásicos, que apresentam estruturas geradas pela oceanização, mas não geram subitamente uma crosta oceânica.  As novas descobertas acerca da transição continente-oceano tornam obsoleta aquela imagem de uma transição abrupta e simples da crosta continental para a crosta oceânica (Cannat et al., 2009). Uma grande fonte de informação para a criação dos novos modelos de margens são as  expedições  oriundas do International Ocean  Drilling Program ( DSDP , ODP , IODP ). Elas foram responsáveis por trazer u ma gama de informações provenientes de dados de rocha e geofísicos coletados ao redor do mundo, e embasam  a nova visão sobre as margens continentais. A mudança na visão clássica Em geral, o s modelos de margem continental passiva mais divulgados pelos cursos de geologia  sã...

Onde está a crosta oceânica?

O modelo  clássico  de crosta oceânica, assumido pela maior parte dos geólogos, segue a seção do modelo de Penrose (Figura 1; Anônimo, 1972).   No entanto, sabe-se hoje que há outros tipos de crostas nas bacias oceânicas que não são explicadas por este modelo clássico. O modelo de Penrose agora é um dos modelos possíveis para descrever a crosta formada em uma zona de espalhamento oceânico (  Manatschal e Müntener, 2009) Figura 1 - O modelo clássico de crosta oceânica ( Queiroga et al. 2012). Onde começa a crosta oceânica "clássica", e o que há entre ela e o limite crustal continental Segundo os modelos mais modernos de margens continentais, o início da crosta oceânica típica (modelo de Penrose, Figura 1) pode ou não estar junto da margem continental. Isto porque, a depender da velocidade de espalhamento e da história de formação da litosfera continental, a acreção crustal gerada no centro de espalhamento oceânico pode resultar em diversos tipos de "crost...