Pular para o conteúdo principal

Ofiolitos e o que eles não explicam

A identificação dos ofiolitos clássicos, com seus layers bem definidos, trouxe uma contribuição imensurável para a compreensão da formação da crosta oceânica. No entanto, ao redor do mundo, as margens passivas apresentam configurações diferentes, e muitas vezes o conceito de layers bem definidos para a crosta oceânica acaba prejudicando a interpretação destas margens. Por isso, é necessário ampliar o conhecimento sobre as variações possíveis da crosta resultante de uma abertura continental. 

Em geral, os ofiolitos são definidos pela tríade de Steinmann. São formados em ambientes de back-arc, fore-arc, ou de zonas de espalhamento oceânico (Manatschal e Müntener, 2009). 

Os ofiolitos clássicos representam bem a crosta oceânica do tipo Penrose. Por outro lado, esta configuração definida e homogênea atribuída à crosta oceânica causa confusão no momento em que o intérprete tenta ajustar este modelo 3-layered à todos os tipos de margens. Isto porque esta definição de crosta oceânica implica no entendimento errôneo de que a transição continente-oceano é sempre brusca e bem definida (Manatschal e Müntener, 2009). Em métodos potenciais, basta lembrar do antigo COB (Continent-Ocean Boundary), que era marcado como uma mudança brusca do dado Bouguer em direção ao oceano, às vezes acompanhado pelo aumento brusco de amplitude no dado magnético. Hoje em dia, não é tão simples determinar onde a crosta oceânica bem formada começa.

No caso de margens magma-poorformadas em regime lento de separação continental, serão formadas crostas com configuração diversa de um crosta oceânica basáltica (veja diferentes tipos de acreção crustal aquiManatschal e Müntener, 2009; Dick et al., 2006), como se esperaria seguindo os modelos clássicos para crosta oceânica. Neste caso, por exemplo, o volume de magma básico sin-rifte é radicalmente menor. Os derrames são de ocorrência escassa e de baixa extensão, se comparados a derrames presentes nas margens vulcânicasTambém as formas de emplacement são diferentes, como por exemplo, bolsões dentro de uma matriz de rocha mantélica rasa (Picazo et al. 2016), ou infiltrações tanto na base da crosta continental distendida como no manto raso (Aragão et al. 2017). Neste cenário de margem magma-poor, o manto raso poderá ser aflorante. 

Todas estas peculiaridades trazidas pelo novo entendimento das margens passivas gera consequências para os estudos passados. Isto porque, se considerarmos os tipos de crosta que podem estar presentes no fundo oceânico atual, os ofiolitos presentes no registro geológico continental também irão ser de diversos tipos, de acordo com a velocidade de espalhamento do fundo oceânico pretérito.

Com isso, é importante que os intérpretes tenham em mente os diferentes tipos de crostas que resultam da variação da velocidade de espalhamento, para interpretação de margens atuais e antigas.


========================================
Referencias aqui

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O uso de filtros na análise de dados magnetométricos e gravimétricos

Para uma abordagem mais interpretativa dos dados, é uma prática comum a composição de um conjunto de mapas com diversas informações diferentes, extraídas do dado inicial processado. Para tal, os dados gravimétricos e magnéticos iniciais, respectivamente anomalia de ar-livre e a anomalia de campo total, passam por processos de filtragem. Em geral, primeiramente, a partir dos dados  gravimétricos é criado um mapa de Anomalia Bouguer, e com os dados magnéticos, são compostos os mapas de redução ao polo e amplitude do sinal analítico. Alguns outros filtros, que podem adicionalmente ser aplicados são as derivadas verticais, horizontais e Tilt (TDR) (MILLER e SINGH, 1994; VERDUZCO et al., 2004), o mapa de gradiente horizontal total, o filtro de amplitude do sinal analítico e os filtros passabanda (BLAKELY, 1996, TELFORD et al., 1990). É recomendada a aplicação de diversos filtros como ferramenta auxiliar de interpretação. Contudo, é preciso atentar para o significado do resultado de...

Introdução a uma nova visão de margem passiva.

( Texto modificado de Alves, 2011 ) No estudo de margens passivas, o s m odelos mais recentes apresentam uma complexidade que não era estudada há alguns anos atrás. São modelos multifásicos, que apresentam estruturas geradas pela oceanização, mas não geram subitamente uma crosta oceânica.  As novas descobertas acerca da transição continente-oceano tornam obsoleta aquela imagem de uma transição abrupta e simples da crosta continental para a crosta oceânica (Cannat et al., 2009). Uma grande fonte de informação para a criação dos novos modelos de margens são as  expedições  oriundas do International Ocean  Drilling Program ( DSDP , ODP , IODP ). Elas foram responsáveis por trazer u ma gama de informações provenientes de dados de rocha e geofísicos coletados ao redor do mundo, e embasam  a nova visão sobre as margens continentais. A mudança na visão clássica Em geral, o s modelos de margem continental passiva mais divulgados pelos cursos de geologia  sã...

Onde está a crosta oceânica?

O modelo  clássico  de crosta oceânica, assumido pela maior parte dos geólogos, segue a seção do modelo de Penrose (Figura 1; Anônimo, 1972).   No entanto, sabe-se hoje que há outros tipos de crostas nas bacias oceânicas que não são explicadas por este modelo clássico. O modelo de Penrose agora é um dos modelos possíveis para descrever a crosta formada em uma zona de espalhamento oceânico (  Manatschal e Müntener, 2009) Figura 1 - O modelo clássico de crosta oceânica ( Queiroga et al. 2012). Onde começa a crosta oceânica "clássica", e o que há entre ela e o limite crustal continental Segundo os modelos mais modernos de margens continentais, o início da crosta oceânica típica (modelo de Penrose, Figura 1) pode ou não estar junto da margem continental. Isto porque, a depender da velocidade de espalhamento e da história de formação da litosfera continental, a acreção crustal gerada no centro de espalhamento oceânico pode resultar em diversos tipos de "crost...