Pular para o conteúdo principal

O uso de filtros na análise de dados magnetométricos e gravimétricos

Para uma abordagem mais interpretativa dos dados, é uma prática comum a composição de um conjunto de mapas com diversas informações diferentes, extraídas do dado inicial processado. Para tal, os dados gravimétricos e magnéticos iniciais, respectivamente anomalia de ar-livre e a anomalia de campo total, passam por processos de filtragem. Em geral, primeiramente, a partir dos dados gravimétricos é criado um mapa de Anomalia Bouguer, e com os dados magnéticos, são compostos os mapas de redução ao polo e amplitude do sinal analítico. Alguns outros filtros, que podem adicionalmente ser aplicados são as derivadas verticais, horizontais e Tilt (TDR) (MILLER e SINGH, 1994; VERDUZCO et al., 2004), o mapa de gradiente horizontal total, o filtro de amplitude do sinal analítico e os filtros passabanda (BLAKELY, 1996, TELFORD et al., 1990).

É recomendada a aplicação de diversos filtros como ferramenta auxiliar de interpretação. Contudo, é preciso atentar para o significado do resultado de cada filtro aplicado, de acordo com suas definições matemáticas. Segundo Skeels (1967), o resultado desta análise deve auxiliar, mas não substituir, os outros métodos de interpretação; isto porque este é um processo subjetivo, e, portanto, não dispensa a análise do intérprete com conhecimento em gravimetria e magnetometria e suas tecnologias.

A escolha do filtro de dados que melhor auxilia no isolamento de uma determinada anomalia, esta correspondente à resposta geofísica do corpo-alvo, dependerá do contexto geológico em que este corpo se encontra. Como exemplo, para o estudo de fontes rasas, uma opção é o uso de derivada vertical, que pode ser de primeira, segunda, ou até mais ordens, a depender do refinamento necessário para a interpretação. Outra possibilidade é trabalhar com intervalos de frequências, que podem ser subtraídos de forma a manter apenas as frequências que provavelmente contém a resposta correspondente ao objetivo do estudo.

No processo de análise através da aplicação de filtros, os dados gravimétricos e magnéticos podem ser trabalhados tanto no domínio do espaço, quanto no domínio do número de onda, frequentemente tratado na literatura como domínio da frequência (TELFORD et al., 1990). A Fast Fourier Transform (FFT) é utilizada para fazer a conversão dos dados entre estes domínios. Os dados são transformados de um domínio para outro, onde as operações são mais simples, e depois são convertidos de volta para o domínio original.



EXEMPLOS DO EFEITO DOS FILTROS NOS DADOS

Alguns dos filtros utilizados na interpretação grav/mag estão apresentados a seguir com ilustrações de como fica a resposta do dado após a filtragem. Para mais detalhes, consultar Alves (2012) e demais bibliografias ao longo do texto.



Derivada horizontal

A derivada horizontal destaca a variação na horizontal dos valores tratados, nas direções X e/ou Y. Com isso, é possível localizar as fontes das anomalias, e obter informações sobre as características do contato entre o corpo alvo e a encaixante. Este tipo de derivada também é utilizado para compor outros filtros, como por exemplo, o filtro de amplitude do sinal analítico (ROEST et al., 1992).



Derivada vertical

Este filtro amplifica as respostas de baixo comprimento de onda e alta frequência, e minimiza as anomalias de grande comprimento de onda e baixa frequência. A derivada vertical, ou seja, a derivada na direção z , é utilizada principalmente para estudos de fontes rasas em gravimetria e em magnetometria, em geral a primeira e a segunda ordem desta derivada. O resultado deverá apresentar anomalias nas bordas destas fontes rasas. Há diversos meios de se calcular a derivada vertical. Deve-se ressaltar que o resultado obtido pela aplicação de derivadas dependerá da fórmula utilizada, e ainda, para cada fórmula, o resultado pode ser diferente conforme o tamanho de cela utilizado (NETTLETON, 1954).




Gradiente horizontal total

O filtro de gradiente horizontal (BLAKELY e SIMPSON, 1986) utiliza os filtros de derivadas horizontais para indicar mudanças abruptas horizontais na propriedade física analisada. Como resultado, os máximos do gradiente horizontal tenderão a estar nas bordas da fonte da anomalia (BLAKELY, 1996). Este tipo de filtro é aplicado para dados gravimétricos, mas pode ser aplicado para dados magnéticos (CORDELL e GRAUNCH, 1982 apud BLAKELY, 1996).



Amplitude do sinal analítico



A técnica da amplitude do sinal analítico auxilia na determinação de geometria da fonte (NABIGHIAN, 1972, 1974). O resultado da aplicação do sinal analítico deverá indicar características das bordas do corpo. Uma forma de calcular este efeito é no domínio do número de onda, através do cálculo de derivadas do dado original (ROEST et al., 1992). Este filtro é principalmente utilizado no tratamento de dados magnéticos, mas pode também ser utilizado em dados gravimétricos.



Integral vertical 


A integral vertical é o inverso da derivada vertical (SILVA, 1996). Este filtro é similar ao cálculo da pseudogravimetria: observando fórmulas em Blakely (1996), seria equivalente à etapa de integração anterior ao cálculo da redução ao polo. Pode ser utilizado para estudos magnetométricos (SILVA, 1996). O efeito visual é semelhante ao de um filtro de continuação para cima ou upward continuation (BLAKELY, 1996), pois atenua o efeito de fontes rasas, mas apresenta maior resolução lateral (SILVA, 1996).


*** Texto extraído e adaptado de Alves (2012) ***







Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Introdução a uma nova visão de margem passiva.

( Texto modificado de Alves, 2011 ) No estudo de margens passivas, o s m odelos mais recentes apresentam uma complexidade que não era estudada há alguns anos atrás. São modelos multifásicos, que apresentam estruturas geradas pela oceanização, mas não geram subitamente uma crosta oceânica.  As novas descobertas acerca da transição continente-oceano tornam obsoleta aquela imagem de uma transição abrupta e simples da crosta continental para a crosta oceânica (Cannat et al., 2009). Uma grande fonte de informação para a criação dos novos modelos de margens são as  expedições  oriundas do International Ocean  Drilling Program ( DSDP , ODP , IODP ). Elas foram responsáveis por trazer u ma gama de informações provenientes de dados de rocha e geofísicos coletados ao redor do mundo, e embasam  a nova visão sobre as margens continentais. A mudança na visão clássica Em geral, o s modelos de margem continental passiva mais divulgados pelos cursos de geologia  sã...

Onde está a crosta oceânica?

O modelo  clássico  de crosta oceânica, assumido pela maior parte dos geólogos, segue a seção do modelo de Penrose (Figura 1; Anônimo, 1972).   No entanto, sabe-se hoje que há outros tipos de crostas nas bacias oceânicas que não são explicadas por este modelo clássico. O modelo de Penrose agora é um dos modelos possíveis para descrever a crosta formada em uma zona de espalhamento oceânico (  Manatschal e Müntener, 2009) Figura 1 - O modelo clássico de crosta oceânica ( Queiroga et al. 2012). Onde começa a crosta oceânica "clássica", e o que há entre ela e o limite crustal continental Segundo os modelos mais modernos de margens continentais, o início da crosta oceânica típica (modelo de Penrose, Figura 1) pode ou não estar junto da margem continental. Isto porque, a depender da velocidade de espalhamento e da história de formação da litosfera continental, a acreção crustal gerada no centro de espalhamento oceânico pode resultar em diversos tipos de "crost...